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LEITOR ENCAMINHA PARA AUTORIDADES CARTA A RESPEITO DA ANTENA 1 LITE FM
Escrito em 3 de junho de 2009 por leitor do TRIBUTO que pediu anonimato.
Rio de Janeiro, 3 de junho de 2009
Prezado(a) Senhor(a)
É na qualidade de cidadão brasileiro, carioca e fluminense, que respeitosamente lhe escrevo a respeito de um grave atentado à cultura recentemente praticado contra o povo do Rio de Janeiro.
No último dia 1° de junho, uma das emissoras de Rádio mais importantes desta cidade deixou de existir. Trata-se da Antena 1 Lite FM, em 103,7. Tratava-se de uma emissora tradicional, contando com 28 anos de atuação, que veiculava não apenas músicas de qualidade, como também informava e prestava serviços à população, cuja história se confunde com a de milhares de cariocas e fluminenses que acompanharam sua longa trajetória.
A emissora em questão ultrapassava em muito o papel de simplesmente informar e tocar música. Era um espaço em que artistas ainda pouco conhecidos eram apresentados ao público. Isto sem deixar de lado a memória, pois também era possível ouvir o que de melhor há entre os mais consagrados artistas da MPB: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Cidade Negra, Cássia Eller, Maria Bethania e muitos, muitos outros.
Possuía características únicas, como uma equipe formada apenas por - excelentes - locutoras. Ficava localizada em um dos cartões postais do Rio, o charmoso bairro da Urca, mas não era bairrista, muito menos voltada apenas para um público de elite, nem para nenhum segmento específico, porque agradava - e muito - a pessoas de diversas faixas etárias e condição social.
Era também o local de trabalho de vários cariocas, de nascimento ou não, cerca de 30 de nós, que recentemente ingressaram nas já muito grossas filas de desempregados. Mais uma empresa carioca que fecha suas portas, a aumentar as estatísticas negativas do desempenho da atividade econômica de nosso Estado. Ao que consta, teria sido substituída, mesmo que indiretamente, por emissora de outra unidade da federação, com transmissão via satélite, o que também reduz a arrecadação dos tributos relacionados à atividade em questão, que deixam de ser recolhidos aqui, e passam para lá.
Infelizmente, por motivos que desconhecemos, a emissora que era a segunda colocada nas pesquisas de audiência no Rio de Janeiro, uma cidade que conta com aproximadamente 6 milhões da habitantes, desapareceu.
O mundo muda a todo instante, a mudança é uma necessidade da vida, condição mesma para que esta se mantenha. Mas, apesar desse movimento incessante de transformação do que já existe e de absorção do novo, com o qual as pessoas responsáveis pela programação da emissora estavam sintonizadas, também é preciso preservar. Preservar a cultura, mesmo que de grupos minoritários, porque não vivemos a ditadura da maioria, ou pelo menos não devemos viver, em nenhuma espécie de ditadura, e todos têm direito a existir, ou melhor, a coexistir, pacificamente.
Não cabe aqui avaliar, do enfoque estritamente comercial ou financeiro, se a decisão tomada pelos responsáveis pela emissora foi a mais acertada. Cabe deplorar um ato que, sob outros aspectos, não apenas privou público e artistas de mais um canal de expressão, mas aniquilou um dos jeitos de ser do carioca. Também não se trata de criticar sua substituta. Todos devemos ter espaço, vez e voz.
Por tudo isso, e também porque uma emissora de rádio é, em essência, um serviço público, obtido mediante concessão, peço sua intervenção, nos muitos interesses de muitos. Não se está esperando qualquer tipo de autoritarismo, de desrespeito à livre iniciativa ou à atividade privada, nem de intervencionismo, mas uma atitude. Se não for para o caso presente, que seja ao menos para o futuro, para que de alguma forma, se possa levar em conta mais pontos de vista quando surgirem situações que envolvem não apenas um pequeno grupo de pessoas, mas uma parcela, ainda que minoritária, da comunidade.
Naturalmente, gostaríamos de ter nossa emissora de volta. É o que queremos. Mas mesmo que isso seja de todo impossível neste momento, que ao menos esse triste episódio sirva para fomentar a reflexão e a discussão do tema, e, de preferência, alguma indignação que nos tire da inércia e nos faça ser mais cidadãos, detentores de direitos. No caso, do direito a existir, de conviver pacificamente, de respeito às diferenças, de acesso a bens culturais, de trabalho, de cada vez mais direitos.
Receberam esta carta os seguintes endereços:
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bencardino@camara.rj.gov.br, caiado@camara.rj.gov.br,
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