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OS 20 ANOS DA CBN

Escrito em 2 de outubro de 2011 por Marcelo Delfino para a coluna Rádios do RJ.

CBN

Foi exatamente em 1º de outubro de 1991 que o Sistema Globo de Rádio extinguiu a rádio Eldorado AM 1180 do Rio de Janeiro e a histórica Excelsior AM 780 de São Paulo, e criou no lugar de ambas a CBN, Central Brasileira de Notícias. A CBN desalojou a histórica Mundial AM 860 carioca em 15 de janeiro de 1993, saiu da frequência AM 1180 (atualmente arrendada para a Igreja Mundial) alguns anos depois e desalojou a Globo FM 92,5 em 4 de julho de 2005, transformando-a em sua repetidora.

Tida como a primeira rádio all news brasileira, imitou o formato desenvolvido em diversas emissoras americanas que passavam toda a grade transmitindo apenas notícias, sem tocar uma música sequer, ao contrário do que faziam (e ainda fazem) diversas concorrentes. Motivo que leva a CBN a manter até hoje o mesmo slogan da inauguração: a rádio que toca notícia. A CBN acrescentou entrevistas, comentaristas e quadros com diversos assuntos.

Nesses vinte anos de transmissões, percebe-se que a grande contribuição da CBN em sua já longa história é ter elevado o seu trabalho impecável de reportagens (muitas vezes urgentes) à condição de principal atração da rádio.

Daí alguém pode perguntar: "Tá, e daí? A CBN é assim, assado, deixa muito a desejar". Desde o início, tentou-se vender uma imagem falsa da rádio. De que a CBN era uma rádio diferenciada dentro das Organizações Globo, com independência editorial até mesmo da nave-mãe global. Contribuiu muito com essa falsa imagem a cobertura incessante do impedimento do presidente Fernando Collor, em 1992, logo nos primeiros meses de vida da rádio, que chegou a transmitir sessões inteiras de CPIs do Congresso Nacional, anos antes de o Senado e a Câmara inaugurarem emissoras de TV.

Só que, a bem da verdade, a CBN sempre foi, desde 1991, uma rádio com linha editorial neoliberal, e só assim deve ser ouvida. É prestigiada pelas classes altas e médias, e por pessoas com alta escolaridade. Evidentemente, é um público que majoritariamente percebe os pormenores e as explicitudes das reportagens, dos âncoras (substitutos, nas rádios ouníus, dos antigos comunicadores), dos comentaristas e das entrevistas. Quem segue a ideologia neoliberal pode ouvir a rádio numa boa. Os demais têm inteligência suficiente para separar os fatos das farsas. Não são como o Homer Simpson que assiste diariamente o Jornal Nacional e acredita piamente em tudo aquilo exibido ali.

Na década passada, a CBN começou a deturpar sua fórmula original. Deixou de ser evidentemente uma rádio ouníus e passou a dedicar-se também ao showrnalismo (jornalismo de entretenimento), em busca de mais audiência, notadamente nas cidades em que a emissora transmite em FM. Originalmente, a CBN não transmitia partidas de futebol. Passou a transmitir na década passada, com uma equipe de esportes que partilhava alguns profissionais da Rádio Globo, mas que tinha também profissionais próprios. A obsessão é tanta que, durante o apagão que atingiu o centro-sul do país em novembro de 2009, a CBN do Rio (em seus canais AM e FM) não entrou em cadeia com o resto da rede, que àquela altura fazia o melhor trabalho de cobertura do apagão. Nem pra deixar o canal AM ou FM transmitir a cobertura do apagão a CBN prestou. Preferiu usar os dois canais para transmitir uma partida de um time do futebol carioca.

As equipes de esportes das rádios Globo e CBN foram unificadas em junho de 2009, para dar à equipe de esportes da Globo o canal FM da CBN para bater de frente com a recém-instalada repetidora de FM da Super Rádio Tupi. As duas equipes de esportes foram novamente separadas depois da Copa 2010, já com a Globo tendo sua repetidora em FM distinta da CBN FM.

Nos últimos anos, a CBN escalou seus comentaristas (todos eles invariavelmente liberais como a rádio) para serem uma espécie de novas estrelas do showrnalismo. Alguns deles também foram escalados para escreverem livros com o selo CBN, em editoras diversas como a Globo (obviamente) e a Senac Rio. A própria diretora nacional de jornalismo Mariza Tavares escreveu com Giovanni Faria pela Senac Rio o livro comemorativo dos 15 anos da rádio, em 2006. O livro mais parecia um portfolio, com inúmeras páginas com textos curtos, artes gráficas e ilustrações.

Mas nenhum livro se prestou a perpetuar o ideário neoliberal da CBN como o livro Neoliberal, não. Liberal, do comentarista Carlos Alberto Sardenberg. Juntamente com o livro dos 15 anos da CBN, este de Sardenberg é o único que tive oportunidade de ler. Sem paciência, não li os livros na época dos lançamentos. O dos 15 anos consegui anos depois numa livraria da Av. Rio Branco, e era o último exemplar. O de Sardenberg até procurei na época do lançamento, mas só fui encontrar no estande da Editora Globo na Bienal do Livro de 2009.

Neoliberal, não. Liberal

É difícil saber qual é o futuro da CBN, a partir de agora. Com as pessoas cada vez mais descrentes das soluções mágicas neoliberais apresentadas por âncoras e comentaristas da CBN, cada vez mais autistas em suas crenças, não sei se a grande audiência da CBN se manterá nos próximos anos. Faturamento não é problema, porque há centenas de empresas dispostas a bancar a linha editorial autista da CBN. Mais ou menos como rádios bancadas por igrejas ou clubes de ouvintes, que realmente não precisam de audiência.

Era isso que tinha a dizer hoje sobre os 20 anos da CBN. Tenham uma excelente semana, amigos leitores.

Abraços,

Marcelo Delfino

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