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A CARTA QUE O FAIXA LIVRE NÃO RESPONDEU

Escrito em 14 de julho de 2007 por Marcelo Delfino.

Tomei a iniciativa de enviar uma carta para a equipe do programa Faixa Livre (segunda a sexta, 8 a 10h, na Bandeirantes AM 1360). É uma carta escrita emocionalmente, em alguns poucos trechos, mas há uma grande racionalidade em tudo o que está escrito nela.

Esperei inutilmente nos últimos dias por uma resposta. Eles poderiam ter enviado pela Internet, já que avisei que não posso ouvir o programa todo e talvez não ouvisse uma resposta falada no ar. Mas como eles não devem ter uma justificativa satisfatória para as graves falhas do programa, preferiram ignorar minha carta.

Pois agora ela se torna pública. Se alguém da equipe do Faixa Livre ainda quiser responder, esteja à vontade. Mas aviso que não publicarei respostas ofensivas, como as que eles costumam dar a todos os que pensam diferentemente deles.

Antes da carta, esclareço que ela foi uma iniciativa exclusivamente minha. Nenhum outro colaborador do TRIBUTO participou da sua concepção.

Data: Sun, 8 Jul 2007 00:47:06
De: "Marcelo Delfino"
Assunto: Decepcionado com o programa
Para: faixa.livre@yahoo.com.br

Ilustríssimos integrantes do Faixa Livre

Deixem eu me apresentar... Sou ouvinte do programa desde a fundação, em dezembro de 1994. Tinha 19 anos na época. Hoje tenho 32.

Minha idade e minha vivência não me permitem mais aceitar tudo sem questionamentos.

Por incrível que pareça, agora questiono o Faixa Livre, programa maravilhoso na época do nefasto governo FHC, hoje uma mera caricatura do programa que embalou meus primeiros anos de pós-adolescência.

Meu coração está ferido com muitas decepções com pessoas e coisas em que acreditava naquela época e mesmo recentemente.

Eu acreditava no Faixa Livre. Era um programa que destoava da linha liberal da CBN, à época a única rádio jornalística do Rio, depois do fim da JB e antes da criação da também liberal Band News, que jamais ouvi. Reprovo AMs em FM.

Mas veio o governo Lula. Eu temia que o programa virasse chapa-branca, apesar de eu mesmo ter votado no ilustríssimo ex-sindicalista nos dois turnos da eleição presidencial de 2002.

Não virou chapa-branca, como eu temia. Fez pior: adotou uma linha professoral igualzinha à da CBN. Não liberal, obviamente, mas com um viés doentio socialista.

Liberalismo e socialismo são, a rigor, duas faces da mesma moeda podre. Concordo com Milton Temer ao dizer que direitistas gostam de dizer que não há mais esquerda e direita. Existem sim. Ambas unidas contra os interesses nacionais, ainda que nunca se encontrem ou só dialoguem nos bastidores. Mas, ao contrário de Milton Temer, prefiro dizer: socialismo é barbárie.

Eu penso que programas de rádio e mesmo rádios inteiras, sendo concessionárias de um serviço público, deveriam agir como os bons magistrados e membros do Ministério Público. Jamais deveriam tomar partido. E deveriam abrir espaço para todos.

Errada estava a RCTV, ao tomar partido contra um presidente. Ainda que ele seja um Pinochet, um Médici ou um Fujimori às avessas. TV não pode tomar partido. Seja contra ou a favor. Quem quiser tomar partido, que vá para a mídia impressa ou para a Internet, que não precisam de outorga.

Erradas estão todas as emissoras de TV brasileiras, comerciais (Band e Globo, inclusive), públicas e estatais. Todas chapa-branca, ainda que a esquerda diga que não. Também, com tantos anúncios de estatais na programação...

Erradas estão as rádios CBN e Band News (do mesmo grupo que veicula o Faixa Livre), ao defenderem o neoliberalismo e a direita.

Errado está o Faixa "Livre", ao defender idéias esquerdistas.

O programa tinha que mudar de nome. Se é Faixa Livre, tinha que admitir como comentaristas membros de todas as tendências políticas. Desde o pessoal do DEM e do PSDB até do PSTU e do PCO.

Mas a equipe do Faixa "Livre" deve estar com raiva do PSTU, por eles terem se posicionado contra o Sr. Chavez, o Pinochet queridinho das esquerdas (PT e PSOL, inclusive) e do Faixa "Livre".

No Faixa "Livre", só têm vez e voz militantes do PT, do PDT, do PSB, do PCB, do PC do B, do PSOL e de entidades ora chapa-branca ora pelegas, tipo MST ou os dopados sindicatos.

Para completar o quadro, jamais esquecerei do quanto o TRE sempre foi conivente com a Bandeirantes AM e o Faixa "Livre", ao permitir que Paulo Passarinho declarasse sutilmente seu voto (Heloísa Helena no 1º turno), sem multar a rádio ou tira-la do ar por 24 horas. Nunca apoiarei o apresentador, naquele seu eufemismo de "não votei no Lula. Vetei o Alckmin", no 2º turno.

Jamais ouvi no radiojornalismo tanta desonestidade numa frase só. O apresentador inventou ali um novo tipo de militante: o chapa-branca envergonhado.

E daí que o Alckmin representasse algum risco de ser um presidente neoliberal como alguns anteriores? Parece que a justiça tarda mas não falha... Em janeiro, vi o tucanato apoiar, feliz e contente, a eleição de um petista (apoiado por Lula) para a presidência da Câmara dos Deputados. Outros tucanos inventaram aquela candidatura mambembe do Gustavo Fruet, mas o mal estava feito. PT e PSDB deram mais um passo rumo à futura fusão.

E agora mesmo vejo Lula e Arthur Virgílio felizes e contentes ao defenderem juntos o Sr. Renan Calheiros.

Já que o PT e o PSDB são capazes de tanto carinho e ternura um para com o outro, como fica o apresentador com sua cretina frase "vetei o Alckmin"?

Nunca ri tanto da cara dos tucanos e dos petistas, mesmo aqueles com quem fiz amizade (não política) em ambos os lados. E, falando francamente, ri muito também do ilustríssimo apresentador que vetou o Alckmin.

Aquela profecia do professor Chico Alencar (a população pode querer a volta dos tucanos originais, no lugar dos tucanos do PT) ainda pode virar realidade.

Eu já escrevi demais, e conforme escrevi antes, meu coração está ferido. E sangrando tal como o daquela imagem do Sagrado Coração de Jesus.

Vou continuar acompanhando o programa. Apesar de considera-lo apenas uma CBN às avessas. E não dá para ouvir o programa todo, porque trabalho no horário.

Agradeço pela atenção.

Atenciosamente,

Marcelo de Jesus Delfino
Rio de Janeiro - RJ

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