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OS 10 ANOS DA TRANSFORMAÇÃO DA FLUMINENSE FM EM JOVEM PAN
Escrito em 4 de outubro de 2004 por Alexandre Figueiredo.
No dia 01 de outubro de 1994, os roqueiros do Grande Rio ficaram estarrecidos com a extinção da Rádio Fluminense FM, que passou a fazer parte da Jovem Pan Sat. Vieram muitos protestos que no entanto foram em vão. Passado esse tempo todo, foram seis anos de Jovem Pan Sat que no entanto foram suficientes para enfraquecer a primeira rádio alternativa de rock do país.
A trajetória da Jovem Pan 2 nos 94,9 MHz foi humilhante. Seus locutores faziam bravata com o fato de tocarem dance music baba numa freqüência antes dedicada ao rock. De fato a Fluminense FM cometeu muitos erros, uns bobos, outros constrangedores, mas nada que merecesse ser substituída por uma emissora fútil, que nessa época tocava intérpretes sem a menor identidade, que faziam um som dançante típico das academias de ginástica.
Arrogantes, os profissionais da Jovem Pan Rio ridicularizaram a Fluminense e pagaram um preço alto por isso. Quiseram mandar no Grupo Fluminense de Comunicação e perderam audiência. Tentaram o popularesco e até o "pop rock", até a Jovem Pan Rio sair do ar e dar lugar à fracassada Jovem Rio, na verdade um aproveitamento dos locutores da afiliada da JP2. Uma outra Jovem Pan Rio, menos arrogante e mais profissional entrou no ar no espaço da antiga Imprensa FM (102,1 MHz).
A venda da Fluminense FM pode ter sido uma armação. Nada foi esclarecido com a súbita venda de rádios de rock originais para emissoras não comprometidas com o rock. Entre 1994 e 1996, quase todas as rádios de rock originais foram desativadas: Fluminense FM em Niterói (RJ), 97 FM em Santo André (SP) e Estação Primeira em Curitiba (PR). Somente a Ipanema FM foi poupada, mas ela acabou sucumbindo ao ecletismo, pois por razões do mercado ela tem que compartilhar o rock autêntico com hits de pop, hip hop e música eletrônica.
Seria coincidência tanta rádio alternativa extinta quase ao mesmo tempo? Haveria um complô contra a vida inteligente no rádio? É algo que não foi devidamente investigado, até porque iria comprometer a reputação dos grandes donos de rádio, sempre afeitos para fórmulas descartáveis, apelativas ou paliativas.
Rádio Cidade age mais contra do que a favor dos roqueiros
Pior do que o fim da Fluminense FM, foi o grande Cavalo de Tróia que os roqueiros do Grande Rio receberam quando a Rádio Cidade jogou sua trajetória original no lixo e, num delírio de perda de identidade - o nome de um programa da fase dance da emissora, "Amnésia", é bastante ilustrativo - , virou caricatura de rádio de rock em março de 1995.
Deturpando violentamente os conceitos de rádio de rock, sob o pretexto do "profissionalismo", da "modernidade" e de qualquer outra desculpa que seus produtores arrogantes usem, a Rádio Cidade, na prática, tirou do imaginário policial e trouxe à realidade concreta os estereótipos reacionários do jovem roqueiro. Assim, o ouvinte da Rádio Cidade se configura num jovem alienado, imbecilizado, arrogante e que vê sua irritabilidade fácil com orgulho e vaidade. Sem exagero, pode-se definir o perfil do "público roqueiro" da Rádio Cidade como sendo de extrema-direita, dentro do contexto social da democracia brasileira (não chegam ao nível sanguinário dos neo-nazistas).
A Rádio Cidade avacalha mais o rock do que milhares de camburões juntos. Reprime a cultura alternativa mais do que dezenas de tanques do Exército. Graças à sua atuação, o Rio de Janeiro viu seu cenário de rock alternativo cair na clandestinidade, como se estivéssemos no período da ditadura. Algumas bandas com sonoridade mais acessível no entanto buscam divulgar seu trabalho no programa "A Vez do Brasil", da Rádio Cidade, menos por prazer do que por falta de outra opção. Nos bastidores do rock, é notória a má fama daRádio Cidade, cuja performance no segmento rock não agrada sequer os funcionários do Sistema Jornal do Brasil.
A Rádio Cidade teve sorte de obter faturamento com a percentagem do lucro dos ingressos com o patrocínio dos shows de rock. A rádio está cheia de dinheiro, somando ainda o que arrecada de "jabaculê". A emissora, pelo seu poder, truculência e arrogância, acabou se tornando uma espécie de "Antônio Carlos Magalhães" das 'rádios rock' brasileiras.
A volta da Fluminense FM não fracassou por causa da Rádio Cidade
É completamente mentirosa a versão de que foi a força da Rádio Cidade entre o público roqueiro que fez abortar a programação da Fluminense FM.
É bom deixar claro que a programação rock resgatada pela Fluminense AM em 2001 estava fazendo sucesso, tendo um bom respaldo de ouvintes. A volta da Flu foi bastante elogiada e teve uma cobertura da imprensa que a Rádio Cidade nunca teve. Nem mesmo os melhores programas da Cidade chegam a receber reportagens elogiosas.
A Fluminense contou com excelentes profissionais nessa fase 2001-2002. Seus produtores José Roberto Mahr, Lia Easter e Leandro Souto Maior buscaram dar o melhor de si para oferecer uma programação de qualidade, respeitando as lições da Fluminense nos anos 80 e evitando os erros dos anos 90. O responsável pelo Tributo ao Rádio do RJ, Marcelo Delfino, e o colaborador Ernesto Pina também se esforçaram para dar o apoio necessário a essa nova fase da emissora. O autor deste texto também fazia sua parte divulgando textos sobre a emissora na Internet.
Mas o que derrubou a Fluminense foi a pressa do proprietário Alexandre Torres em obter faturamento. Ele queria lucro imediato, e não teve paciência quando investiu na volta da Fluminense FM. Fez pressões para a Flu se tornar uma rádio de "pop rock" e a rádio fracassou porque seu empresário o quis. Portanto, não foi porque a Rádio Cidade se consolidou como "rádio rock". Se tirar o marketing e o departamento comercial, o que sobra da Rádio Cidade é apenas uma rádio maltrapilha que junta o pior da Fluminense FM de 1991-1994 com o pior da Jovem Pan Rio nos 94,9 MHz.
Pode parecer irônico, mas os "paruaras náuticos" que Luiz Antônio Mello falou se uniram com os algozes da "Maldita". Entre os primeiros, vieram "profissionais" como Rhoodes Dantas e um músico, hoje produtor da Rádio Cidade, que está por trás dos comentários pró-Rádio Cidade que publica na Internet sob vários pseudônimos. Entre os segundos, o ex-escudeiro de Tutinha, Alexandre Hovoruski. Todos transformando a cultura alternativa numa carniça de urubu, num município que já sofre pela violência do narcotráfico, pelo vandalismo das gangues de favelas, pela truculência dos pitboys, pela tirania dos bicheiros e agora pelo fascismo de uma minoria de jovens riquinhos e pretensamente rebeldes, para os quais a Rádio Cidade se tornou um gueto. Da rádio pop criada com muito trabalho por Fernando Mansur e equipe, resta agora um cadáver junkie que ainda renderá triste memória.
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