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LEMBRANÇAS DO FLUMINENSE HARD ROCK
Escrito em 15 de janeiro de 2012 por Marcelo Delfino para o portal TVs do RJ.
Fluminense Hard Rock foi um programa musical que a saudosa Fluminense FM 94,9 levava ao ar de segunda a sexta-feira, de meia noite a duas horas da manhã. O nome do programa tinha hard rock, mas embora presente na programação, esse não era o estilo predominante, que na verdade era o heavy metal, em todas as suas vertentes. Havia também alguma coisa de punk rock setentista e/ou engajado. E nada (ou quase nada) de heavy ou hard farofa.
Eu não era ouvinte assíduo do programa, pois na época eu tentava entrar no mercado de trabalho, acordando frequentemente cedo para correr atrás de trabalho e de qualificação profissional. De modo que conferi apenas algumas edições do programa. A maioria delas de sexta-feira, véspera de sábado, dia de folga para qualquer garoto da idade que eu tinha.
As edições de quarta-feira eram dedicadas a especiais de bandas, em que uma hora inteira ou as duas horas eram dedicadas a músicas de estúdio de uma banda ou artista só, ou a músicas ao vivo também do mesmo intérprete.
As edições de sexta-feira eram as que eu mais ouvia, pelos motivos expostos acima. E eram também as edições que eu mais gostava. Sexta-feira era o dia dedicado apenas a tocar módulos enviados pelos ouvintes. A coisa era simples. Cada ouvinte mandava uma carta para a rádio (Alô, juventude! Vocês sabem o que é isso? Mandar uma carta pelo correio?) com três músicas, cada uma obrigatoriamente de uma banda ou artista diferente. Na medida do possível, eles atendiam todas as cartas, e liam no ar o nome do ouvinte e seu bairro. Mandei apenas um módulo para o programa, e ele foi levado ao ar. Na carta, mandei a lista de músicas, nesta sequência: Arise (Sepultura), Papai Noel Velho Batuta (Garotos Podres) e Igreja Universal (Ratos de Porão). Um módulo um pouco variado, com uma banda pesadona de metal, uma banda punk estilo oi (estilo conhecido assim por causa do "oi, oi, oi" gritado nas músicas) e uma banda pioneira mundial no cruzamento de punk rock com metal. Só que a Fluminense FM simplesmente NÃO TINHA o vinil (nem tinha sido lançado o CD correspondente) do primeiro disco dos Garotos Podres, o independente Mais Podres do que Nunca (LP, 1985, Rocker/Lup-Som), em que a banda lançou Papai Noel Velho Batuta. Simplesmente os caras tocaram outra música: Eu não gosto do Governo, do LP Pior que Antes (1988, Continental). Curiosamente, apenas este segundo disco achei e adquiri em CD, no ano passado. As músicas do Sepultura e dos Ratos foram executadas a partir dos discos que pedi: Arise (Cogumelo, 1991) e RDP Vivo (Eldorado, 1992).
No dia em que a edição do Fluminense Hard Rock com meu módulo foi ao ar, a Fluminense FM já sofria com os problemas crônicos que ajudaram a levar a rádio ao seu fim, em setembro de 1994. A rádio estava com os equipamentos sucateados, transmitindo um zumbido irritante e interminável, que invadia toda a programação (músicas, locução e vinhetas) sem cerimônia.
Eu disse que o Fluminense Hard Rock quase não tinha hard nem heavy farofa. Isso normalmente. Mas em uns dois dias (se não me engano, 24 de dezembro de 1992 e a mesma data em 1993) o programa foi propositalmente dedicado ao que o próprio locutor anunciava jocosamente como "rock comercial", que segundo ele, era para o ouvinte ouvir o programa com a família toda na noite de Natal, mesmo com os que não curtiam rock pesado ou mesmo rock de uma forma geral. E tome Guns N' Roses (sempre com as babas, tipo Sweet Child O'Mine), Skid Row, Bon Jovi, FireHouse e outras babas, além de sons mais acessíveis das boas bandas frequentadoras das edições normais. O especial de "rock comercial" era feito na sacanagem, mesmo. Pelo menos só foi ao ar nesses dias de Natal. Jamais em outros dias.
Também eram marcantes as vinhetas do Fluminense Hard Rock. Até mesmo uma bem insólita, que tinha apenas um arroto (daqueles bem audíveis) seguido por um locutor dizendo rapidamente "Hard Rock".
O Fluminense Hard Rock era programado por Gilnei Hervano e apresentado por um locutor muito gente boa: o PC, que mais tarde integraria a rádio Foz do Ave (Portugal), Paradiso FM 95,7 e está agora na MPB FM 90,3. PC zoava com os ouvintes sonolentos (programa de meia-noite a 2h era dose) berrando: "Acorda, maluco! Acorda!". Era algo respeitoso e humorado, nada a ver com tripudiação. Ele também tinha várias outras expressões. A música agitada do programa era genericamente nomeada como "bate cabeça", bem como todo e qualquer evento de música ao vivo dos gêneros executados no programa. E o programa anunciava absolutamente toda a agenda de shows de metal, hard e punk rock da cidade do Rio de Janeiro e arredores. "Grande bate cabeça!" era uma forma com que PC se despedia dos ouvintes no fim das edições de sexta-feira, sabendo que vários deles iriam a shows ao vivo no sábado e no domingo.
Quando PC deixou a Fluminense FM, em meados de 1993, o programa passou a ser apresentado por Rhoodes Dantas, que só iria mudar o codinome para Rhoodes In The House quando chegou na Rádio Cidade FM 102,9, algum tempo depois do fim da Fluminense. Rhoodes não tinha o menor jeito para fazer aquele programa. Uma vez teve a desfeita de dizer que não gostava das músicas que estava colocando no Fluminense Hard Rock. Falou isso ao vivo, no ar.
O programa começou a decair em qualidade, sendo extinto antes mesmo do fim da própria rádio. Mas ficaram as boas lembranças do que foi provavelmente o único programa diário de heavy, hard e punk rock que houve no dial carioca em décadas de história. Outros ouvintes do Fluminense Hard Rock devem ter boas histórias para contar a respeito.
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