MESTRE HAROLDO DE ANDRADE, ÍCONE MÁXIMO DO RÁDIO BRASILEIRO
Escrito em 1º de março de 2008 por Marcelo Delfino.
É difícil descrever o tamanha da perda que o Brasil acaba de ter, com a morte do radialista Haroldo de Andrade, ocorrida hoje às 16h20. Se considerarmos que o rádio ainda é um dos mais influentes e abrangentes meios de comunicação do Brasil, junto com a TV e mesmo a Internet, a alcunha de ícone máximo do rádio brasileiro é apropriada. Mesmo considerando que seu auge foi entre os anos 70 e 90, longe, portanto, da chamada "era de ouro do rádio", entre as décadas de 30 e 50.
Já vai longe o tempo em que Haroldo iniciou sua longa carreira, ainda criança, nos alto-falantes de um parque de diversões de Curitiba, sua cidade-natal. O convite para trabalhar como aprendiz em uma rádio curitibana não demoraria. Vindo para o Rio, na década de 50, passou pela Mauá AM, onde se tornou um fenômeno. Lá lançou o Musifone, campeão de audiência e o primeiro programa interativo do rádio brasileiro, décadas antes da popularização da Internet. Teve uma breve passagem pela televisão, nas TVs Excelsior, Tupi e Globo. Mas foi entre os anos 60 e 70, quando ingressou na Globo AM 1220, que ele iniciou sua escalada como o maior ícone do rádio brasileiro.
Ainda na década de 70, seu programa na Globo tornou-se líder de audiência, com repercussão nacional e até internacional. Segundo o portal parceiro Preserve o Rádio AM, em 1977 Haroldo de Andrade recebeu o prêmio de Melhor Programa da América Latina, no 10º Fórum Internacional de Programação de Rádio. No mesmo ano, a Billboard apontou Haroldo de Andrade a Maior Personalidade no Ar.
Com a ditadura brasileira iniciada em 1964, Haroldo de Andrade não podia ainda passar o programa todo dizendo tudo o que devia ser dito, juntamente com os entrevistados e seus colaboradores e ouvintes. Enquanto a imprensa se ocupava do noticiário internacional, menos sujeito à Censura, Haroldo preenchia parte do programa na Globo com sucessos populares.
Com a abertura política e o avanço das FMs no terreno musical, Haroldo passou a dedicar todo o seu programa às notícias, entrevistas, debates e serviços comunitários. O quadro Debates Populares (de 11 a 12h) tornou-se referência nacional, sendo copiado por várias rádios do Rio e de fora. Tanto AMs como, infelizmente, FMs.
Em 1986, durante a Copa do Mundo da FIFA, Haroldo apresentou seu programa ao vivo diretamente do México.
Haroldo abria os microfones da rádio para políticos de todos os partidos. Mas dizia-se que ele se filiou a um deles, o Partido da Frente Liberal, atual Democratas. Teria inclusive sido convidado pela legenda a se candidatar ao Senado pelo Rio de Janeiro. Recusou todos os convites, alegando que queria continuar servindo à população apenas no rádio. Uma decisão que provavelmente poupou a ele mesmo e a todos nós de muitas decepções.
Na comemoração dos 30 anos de liderança na Rádio Globo, Haroldo ganhou uma placa comemorativa do Ibope pelo recorde nacional de audiência.
Em julho de 2002, ele foi demitido da Globo AM, sem poder se despedir dos ouvintes, por não ter concordado em levar seu programa ao ar pela recém-criada Rede Globo de Rádio. Ele não aceitava tirar a vaga de radialistas locais de outras cidades. No segundo semestre de 2002, ele pôde ser ouvido no ar apenas como locutor do programa eleitoral radiofônico da então candidata a governadora Solange Amaral (PFL).
Haroldo de Andrade pegou suas antigas economias, o dinheiro da indenização da saída da Globo, vendeu sua empresa de marketing (ele criaria outra, pouco tempo depois) e partiu para o projeto ousado da rádio própria. Tornou-se sócio, junto com o sr. Poubel, da rádio Haroldo de Andrade AM 1060. A rádio está no ar desde 7 de novembro de 2005, e tem diversos programas populares, entre eles o de Haroldo.
Os seguidos problemas de saúde impediram Haroldo de Andrade de apresentar seu programa, durante parte desse período (novembro de 2005 a fevereiro de 2008).
Com Haroldo de Andrade, morre hoje uma era do rádio brasileiro. Uma era com mais ética, mais democracia, mais simpatia, mais sinceridade, mais cultura (musical, inclusive), mais rádio de verdade. Triste rádio do Rio de Janeiro e do Brasil, que não pode mais contar com a voz do Mestre Haroldo de Andrade. Mestre sim, pois é assim que ele merece ser chamado, para sempre.
Aos futuros radialistas, faço um apelo: se quiserem honrar o ofício que abraçaram, mirem-se no exemplo do Mestre Haroldo de Andrade. Os ouvintes agradecem.
Voltar ao Início Voltar à seção História Voltar à Página Principal