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O RÁDIO NO CONTEXTO DA CRISE MIDIÁTICA

Escrito em 8 de junho de 2013 por Alexandre Figueiredo para o blogue Mingau de Aço.


SERÁ QUE OS BONEQUINHOS PLAYMOBIL TAMBÉM PODEM AJUDAR NA "GIGANTESCA" AUDIÊNCIA DAS FMS QUE QUASE NINGUÉM OUVE?

No contexto da crise midiática, alguns analistas acabam exagerando na crise da imprensa escrita e ignorando a crise do rádio, adotando pontos de vista que, embora em muitos aspectos se afinem com a agenda progressista, mantém um ranço tecnocrático bem forte.

Quanto à crise da imprensa escrita, há uma "euforia" exagerada quanto à decadência de revistas e dos chamados "jornalões", enquanto se superestima o papel da Internet como forma de transformação do jornalismo e da opinião pública. Alguns não conseguem esconder a ânsia da "morte do papel", como se houvesse o mesmo prazer entre ler um tablet e ler uma página impressa. Não há.

Quanto à crise do rádio, os mesmos analistas agem de forma contrária. Acham que a crise não existe, e que o rádio está mais forte que a Internet. Junte-se a isso uma visão provinciana e narcisista dos radiófilos brasileiros, que acham que FM é "tecnologia de ponta" - algo impensável, por exemplo, num Reino Unido que já condenou o FM à extinção total em 2025 - e essa visão fantasiosa é logo fortalecida.

A decadência do rádio brasileiro é notória, com perdas anuais de audiência que vão de 15% a 20%. Milhares de pessoas desligam o rádio definitivamente a cada ano, mas estatísticas ligadas a institutos a serviço do poder midiático tentam dar o quadro contrário, com um suposto crescimento estrondoso do rádio, em supostas pesquisas que causam êxtase nos fóruns e colunas dedicados ao setor.

A situação chega a ser tão cômica que se somar o total de ouvintes, em certos casos o número ultrapassa o total de habitantes, com rádios apresentando "picos" de 200 mil ouvintes, o que faz com que até mesmo locutores esportivos vindos do nada sejam rotulados de "reis do Ibope". Isso numa realidade em que, através das andanças das ruas, se observa que são cada vez menos pessoas ouvindo rádio atualmente.

A manobra é fortalecida sobretudo pela mais recente estratégia jabazeira, que é de rádios "alugarem" espaços de recepção coletiva de sintonias individuais, que é o caso de estabelecimentos comerciais ou outros ambientes de serviço (como portarias de prédio) em que uma só pessoa sintoniza e realmente ouve uma rádio mas sua audiência é atribuída a pessoas que estão por perto mas que não necessariamente ouvem ou se interessam por tal emissora.

Só isso "anaboliza" a audiência até mesmo de emissoras inexpressivas que costumam ter menos de 500 ouvintes em toda uma cidade, mas que, "milagrosamente", passam a ter até mesmo 35 mil ouvintes porque, irradiadas em ambientes coletivos, sua audiência é atribuída não só àquele que realmente ouve tais rádios, mas à freguesia que está por perto, num recurso que lembra muito o de jogar não-fumantes para a demanda de fumantes, só porque estão perto de alguém que fuma.



MUITA ALEGRIA POR NADA - Na era da Internet, locutores como José Carlos Araújo, da Rádio Bradesco Esportes FM, estão perdendo audiência num país onde o povo cada vez menos ouve rádio.

Cadê os ouvintes?

Enquanto as colunas e fóruns sobre rádio na Internet comemoram o desfile de um amontoado de números dos índices de pesquisa, a realidade das ruas mostra que as rádios FM, principalmente o chamado "Aemão de FM" - emissora FM com programação parcial ou totalmente análoga à de rádio AM, com ênfase em noticiário e esportes - , estão com a audiência em baixa em todo o Brasil.

Até agora não decolou, por exemplo, a "ambiciosa" Bradesco Esportes FM, parceria entre a Bandeirantes e o banco Bradesco, que só está em alta na imaginação de radiófilos e no carnaval corporativista dos fóruns e colunas de rádio. Raramente uma viva alma sintoniza a emissora, cujo Ibope chega a ser pior do que o da Band News FM, da qual só vinga pra valer o programa de Ricardo Boechat, e olhe lá.

Mas no corporativismo radiófilo, em que há todo um oba-oba das rádios, deve-se acreditar numa "gigantesca" audiência que não existe. Nem que essa audiência tenha a colaboração de bonequinhos Playmobil amontoados pelo quarto. Locutores esportivos, então, nem se fala, já que é tabu dizer que eles sofrem eventualmente baixas audiências.

Eles passam uma imagem de "líderes absolutos do Ibope", como se eles nunca sofressem queda de audiência na vida. Acreditar assim seria o mesmo que dizer que um grande time de futebol nunca sofre derrotas e nem sequer cai em divisões de campeonatos. Na verdade, os locutores esportivos, mesmo do porte de José Carlos Araújo, da Bradesco Esportes, já sofrem quedas preocupantes de audiência.

Talves os radiófilos até se revoltem quando essa queda de audiência é noticiada. "Impossível" e "absurdo" são os comentários mais comuns. Deslumbrados com a "sopinha de números" que se reduziram as pesquisas de audiência, os radiófilos, na verdade, seguem um protocolo de corporativismo radiofônico que busca evitar divulgar qualquer foco de crise que faça afugentar os anunciantes.

Mas a vida se transforma e as ruas é que dizem, com seus rádios desligados, com suas pessoas ocupadas em seus afazeres, o que os institutos de pesquisa de audiência não admitem. É só andar pelas ruas e ver que, as "centenas de milhares de ouvintes" não existem, apenas "gatos pingados" que se dispõem a sintonizar a mesmice em FM que, no fundo, só agrada mesmo aos barões do rádio e seus astros principais.

Enquanto o Ibope e similares mostram amontoados de números que causam êxtase nos fóruns e colunas de rádio e empolgam radiófilos marcados pelo corporativismo, o silêncio dos rádios desligados não é compensado pela eventual poluição sonora das FMs mais badaladas.

Além disso, a grande mídia cai como um todo. Se jornalões perdem leitores, revistas perdem leitores e a TV aberta perde espectadores, não será o rádio FM a exceção à regra. As "grandes FMs" e mesmo o "empolgante" Aemão de FM e sua "potente" programação esportiva, também estão perdendo ouvintes a cada dia, enquanto a fama de "campeões de audiência" de locutores esportivos torna-se apenas uma fama.

Com o tempo, os novos radiófilos nem vão saber mais o nome desses locutores esportivos. Mas até lá o rádio FM estará com Ibope anoréxico, tragado pelo YouTube e seu museu de coisas mais interessantes para mostrar e que passam longe da mesmice mercantilista da Frequência Modulada.

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