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A POLÊMICA DA NOVA BRASIL FM E A ARMAÇÃO DO "FUNK"
Escrito em 7 de julho de 2007 por Alexandre Figueiredo.
O Brasil tem ainda um espaço limitado à verdadeira música brasileira. Pode ser um fenômeno curioso, mas em termos de penetração na mídia e apelo popular, a Música Popular Brasileira - aquela que resultou na fusão da música de protesto dos CPC's da UNE, da Bossa Nova e do Tropicalismo, consistindo na música brasileira de alguma qualidade de hoje - , ou seja, a nossa MPB, virou o Rock Brasil da atualidade. Sim, porque um artista como Milton Nascimento, por exemplo, soa quase distante para o brasileiro médio do que Deep Purple.
Há rádios que, em formatos variados, dão espaço relativo à MPB. Em todo o país, existem sempre rádios que de uma forma ou de outra, incluem a MPB dentro do cardápio musical. Mas rádios especializadas, ou melhor, exclusivamente MPB, são muito raras.
Para piorar, há um tipo de música herdada do brega brasileiro (Waldick Soriano, Odair José) que se tornou hegemônica no país e que agora põe a própria MPB em segundo plano. Há locais no Brasil onde não há um artista local de MPB. Por outro lado, vemos uma enxurrada de tendências ligadas ao grotesco que, não satisfeitas em permanecer no establishment, querem agora vender a imagem falsa de "verdadeira cultura popular". A reboque disso, vários intelectuais estão falando bem dessas tendências, com uma insistência que lembra os antigos pregadores do IPES/IBAD, os dois institutos de fachada que contribuíram para a instalação da ditadura militar no país.
Essas tendências, que constituem o brega-popularesco, são o breganejo (Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano), axé-music (Chiclete Com Banana, Babado Novo), forró-brega (Banda Calypso, Calcinha Preta), pagode romântico (Exaltasamba, Alexandre Pires), pagode pornográfico (É O Tchan, Gang do Samba) e "funk" (Tati Quebra-Barraco, DJ Marlboro), entre outros. Todos, de uma forma ou de outra, herdeiros de uma perspectiva pretensamente cultural lançada por Waldick Soriano, Odair José e respaldada principalmente por rádios comandadas por latifundiários e políticos de extrema-direita.
A música brega-popularesca é uma espécie de populismo musical orquestrado pelas grandes gravadoras, pelos donos de TV, pelos proprietários de terras. Sob o pretexto da origem pobre de seus ídolos (hoje estão até mais ricos do que a antiga elite da Bossa Nova e seus herdeiros), a música brega-popularesca passa a pretensa imagem da "verdadeira música popular". Ela nada tem a ver com MPB, mas quer tomar seu lugar. Quem lê autores como Umberto Eco, Milton Santos, Ruy Castro, José Ramos Tinhorão, sabe que a música brega-popularesca não é mais do que "cultura de massa", que era como os professores da Escola de Frankfurt (Alemanha), como Theodor Adorno e Walter Benjamin, se referiam à "cultura" como uma reles mercadoria trabalhada ou remoldada pelos meios de comunicação. Numa comparação aproximada, a cultura popular seria os hortifrutigranjeiros, a "cultura de massa" seria os enlatados ou manufaturados que apenas imitam o sabor ou aroma dos hortifrutigranjeiros.
Num país com crise de valores, com violência extrema cometida até pelas elites e com a corrupção cafajeste de políticos até de esquerda, a música brega-popularesca tornou-se a trilha sonora dessa bagunça toda, inclusive com o faz-de-conta de ídolos veteranos (Chitãozinho & Xororó, Harmonia do Samba, Daniel, Alexandre Pires, Gang do Samba, Zezé Di Camargo & Luciano etc.) que, quando ultrapassam o quinto CD depois de um desempenho comercial sem quedas, posam de "grandes nomes da MPB" com discos não menos medíocres que os anteriores, mas que tem a "crise" de (in)capacidade criativa compensada com covers oportunistas de sucessos da MPB. Afinal, têm dinheiro suficiente para comprar regravações tendenciosas e até para arrumar duetos encomendados com nomes da MPB como Zé Ramalho, Renato Teixeira, Zeca Pagodinho e Chico Buarque.
Diante desse efeito estufa da cafonice ameaçando a cultura nacional - que se perderá com essa gororoba sem identidade nacional, nem regional, nem cosmopolita - , é evidente que devemos ter mais rádios de MPB para reagir a esse sucateamento cultural e seus defensores acadêmicos com seus apês na Barra da Tijuca. A Nova Brasil FM tem defeitos evidentes: de fato, a linguagem Jovem Pan 2 nas vinhetas, a locução em cima das músicas, a restrição aos sucessos e medalhões e a presença até de locutores mauriçolas (como William Mayer, da escola Ruy Bala/Emílio Surita de rádio) baixam a cotação da Nova Brasil. Mas um ponto ela tem de bom: ainda não se rendeu ao canto de sereia de Zezé Di Camargo & Luciano, Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires e DJ Marlboro. Acredito que existem pressões para tal, e a Nova resiste. Mesmo com os dois filhos de Xororó invadindo o jet set da MPB pela porta da frente, a custa de alguns ingênuos padrinhos condescendentes.
O mais grave disso tudo é a armação do "funk carioca", que está enganando direitinho muita gente, incluindo até mesmo os cientistas sociais, pasmem. Tanto discurso bonitinho, que parece propaganda do Criança Esperança, e ninguém repara que o "funk" balança ao ritmo do plim-plim, porque a atual onda funkeira nada seria se não fosse a tutela EXPLÍCITA da Rede Globo de Televisão, que faz até mershandising com o ritmo. Será que ninguém percebe que até o DJ Marlboro é contratado da Som Livre? É tanta gente, cínica ou ingênua, achando que o "funk" ainda é underground (pode isso? querendo comparar o "funk" a, por exemplo, o ótimo mangue-beat). Mas, ouvindo um e outro, que diferença!! O "funk" tornou-se a maior fraude da história da música e o jabaculê mais rentável dos últimos cinqüenta anos. Não tenho o menor preconceito com coisa alguma, e a qualidade lamentável do "funk carioca" é algo que pude conhecer porque a vizinhança e o comércio das ruas toca muito esse gênero neo-brega.
O que devemos lutar é por mais rádios dedicadas à verdadeira Música Popular Brasileira. Falta as tendências mais antigas, como os velhos samba e baião. Faltam os nomes mais obscuros, as músicas menos conhecidas. Falta também um alcance maior da MPB no território nacional, para varrer do mapa sobretudo os Bruno & Marrone e Aviões do Forró que agora os latifundiários empurram para o povão. Ou para varrer nomes de triste lembrança como o baiano Chiclete Com Banana, cujo vocalista Bell Marques se envolveu até com sonegação fiscal.
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