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O GRANDE FILME-HOMENAGEM ÀS RÁDIOS PIRATAS BRITÂNICAS DOS ANOS 60
Escrito em 2 de agosto de 2010 por Marcelo Delfino.
Finalmente consegui assistir ontem via Telecine um dos mais sensacionais filmes sobre rock da história: o britânico Os Piratas do Rock (The Boat That Rocked no Reino Unido e Pirate Radio nos EUA).
Trata-se de um filme de 2009 que retrata uma fictícia rádio pirata que transmitia para o Reino Unido a partir de um velho navio ancorado no Mar do Norte, em 1966. Toda a rádio ficava no navio: estúdios, produção, administração, discoteca, cozinha, alojamentos dos funcionários (que moravam no navio), transmissores e torres. A rádio transmitia em AM 1480 kHz. Segundo a história do filme, a rádio (cujo nome pintado até no casco e no convés do navio era Radio Rock) tinha uma audiência estimada em 20 milhões de pessoas, em todas as idades: crianças, adolescentes, jovens adultos, meia-idade e mesmo os mais velhos.
A programação da Radio Rock tinha suas 24 horas diárias de programação voltadas apenas ao rock produzido nas décadas de 50 e 60, além de alguns bons nomes do pop dos 60. Seus locutores eram totalmente liberados para fazerem os improvisos que bem entendessem. Vale lembrar, e o filme anota, que no ano de 1966 todas as rádios legalizadas no Reino Unido eram estatais (ligadas à Rede BBC) e só dedicavam em média 45 minutos por dia (!) à efervescente produção do pop e do rock. De fato, existiram de verdade várias rádios piratas no Reino Unido na mesma época (o filme anota isso), e elas transmitiam também a partir de navios.
É óbvio que o filme não se escora somente na excelente trilha sonora, que era a base da programação da rádio fictícia. O filme se concentra mesmo nos bastidores da rádio e nas trajetórias da tripulação, ou seja: o dono da rádio (e capitão do navio), a equipe de radialistas (basicamente locutores e produtores) e a cozinheira da rádio, que tinha espaço garantido no navio exclusivamente masculino por ser uma lésbica declarada. Todos esses personagens tinham os mesmos anseios, ideais, desejos e dramas de milhões de jovens britânicos dos anos 60. Tudo muito bem retratado nas próprias músicas da época. Não faltam no filme o clima psicodélico, as relações amorosas casuais de vários membros da tripulação e a legião de fãs (a maioria mulheres) dos radialistas, que se dispunham a embarcar em barcos rumo à Radio Rock, para passarem dias e noites com os radialistas, como convidadas. Tudo autorizado pelo capitão, que liberava os dias de folga da equipe para festas no navio.
Nem tudo era facilidade naquela rádio. Um dos ministros do Governo britânico foi designado para localizar e fechar a rádio. Os próprios membros do Governo refletiam todos os conceitos antiquados que a sociedade conservadora tinha sobre a nova cultura jovem produzida na época. Tanto que mantinham as rádios da BBC (as únicas legalizadas) fechadas para aquelas novas manifestações artísticas. O ministro e um assessor tinham dificuldades na tarefa designada pelo primeiro-ministro, pois segundo o filme, a legislação britânica não enquadrava como crime a transmissão de rádio pirata a partir do alto mar. Só que houve uma brecha: o sinal da rádio começou a interferir nas comunicações de outras embarcações. Foi o pretexto que o ministro teve para obter junto ao Parlamento a aprovação da Lei de Segurança Marítima, que autorizava o Governo a fechar qualquer rádio pirata que interferisse em comunicações marítimas.
A equipe da rádio decidiu desafiar a lei, mantendo a rádio no ar mesmo após a meia-noite em que a lei entrou em vigor. Mesmo com risco de prisão em flagrante para todos. Pra fugir dos barcos da polícia, eles navegaram para mais longe de Londres, mas o navio, que estava em péssimo estado de conservação, teve uma explosão nas máquinas, e começou a naufragar. A tripulação inteira começou a fugir para a proa, não sem antes mandar um pedido de socorro, pela própria rádio, enquanto ela não saía do ar. Não sem antes arrancar lágrimas dos ouvintes, pelo fim da rádio e pelo risco de vida de sua equipe. O ministro que queria fechar a rádio ordenou que seu assessor não mandasse socorro.
Só que os próprios ouvintes usaram seus barcos para localizarem a tripulação da Radio Rock e salvar a vida de todos.
O filme é encerrado com estas legendas: "No verão de 1967, a Radio Rock acabou, mas o sonho não morreu. Hoje existem milhões de rádios musicais em todo o mundo. Elas tocam rock e pop durante todo o dia e toda a noite. Para o rock and roll, bem, esses tem sido excelentes 40 anos". Seguem-se nos créditos finais capas de vários discos de rock e de pop mundialmente famosos produzidos dos anos 60 até o princípio do século XXI, fotos dos personagens do filme e cenas deletadas.
No próprio Reino Unido, várias ex-rádios piratas dos anos 60 se legalizaram, diversificando o dial oficial.
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