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"RÁDIO TUPI AM" FM: BAIXOU O FANTASMA DO VELHO CAPITÃO
Escrito em 26 de maio de 2009 por Alexandre Figueiredo.
A Super Rádio Tupi cometeu um dos piores erros em toda sua trajetória. Ao invés de se firmar no rádio AM e apostar na tecnologia digital, a emissora preferiu a atitude fácil, que garante mais lobby político, que é a criação de um clone em FM. As clones FM de AMs numa mesma região são conhecidas como "papagaios eletrônicos" porque, como papagaios, essas FMs não produzem mensagem, apenas emitem sons.
Claro que a Tupi AM teve seus momentos de tendenciosismo. Era a rádio carioca de Assis Chateaubriand, cujo fantasma parece ter baixado novamente na emissora carioca. Chateaubriand, o "Velho Capitão", era um empresário poderoso, inteligentíssimo, mas muito picareta. Atrasava salários, bajulava e atacava os mesmos políticos conforme a conveniência da situação, e sua revista O Cruzeiro tinha sua história, mas publicou também reportagens falsas que na verdade só saíram da imaginação de seu principal repórter, David Nasser, de quem veio o apelido "Velho Capitão". Nasser, compositor e escritor, era de uma imaginação fértil que o fez inventar uma história de uma suposta e sexy espiã russa no Brasil. Nasser também era picareta, e nos últimos anos de vida estava envolvido com o grupo criminoso Scuderia Le Coq.
A Tupi AM fez a Rede da Democracia, campanha demagógica que, em parte, influenciou a opinião pública a apoiar o golpe militar de 1964. Junto à Tupi estavam a Rádio Globo e a JB AM, entre outras. Essa campanha era ligada aos "institutos" IPES e IBAD, fundados por empresários sob financiamento do capital estrangeiro, que era considerado ilegal.
Com a morte de Assis Chateaubriand, imaginava-se que o período de tendenciosismo da Super Rádio Tupi se encerrasse de vez. A rádio tornou-se até uma simpática emissora de rádio AM, até maio de 2009, quando reviveu os trevosos períodos de maracutaia e malandragem.
Nem a melhor rádio AM do mundo se cabe o direito de passar uma rasteira nas demais emissoras AM e botar uma retransmissora em FM. Sabe-se que essa conversa de que o povo pode escolher duas sintonias é mito, porque a mídia grande sempre empurra a sintonia em FM para o povo ouvir, afinal o rádio FM possui maior lobby entre o empresariado, a classe política e os tecnocratas.
A dupla transmissão AM/FM é uma das mais cínicas fraudes que a mídia eletrônica lança, e que a cegueira dos colunistas de rádio e simpatizantes não permite enxergar. É um golpe que prejudica o rádio AM e significa um superfaturamento ilícito das emissoras envolvidas nessa armação. As duas rádios trabalham como uma só, mas o proprietário, na hora de pedir empréstimo aos bancos, pede um valor em dobro, a título de duas emissoras diferentes, o que significa que apenas 50% do dinheiro solicitado é realmente investido na rádio. A outra parte vai para a fortuna do dono ou para outros projetos que favoreçam a concentração de poder da empresa de radiodifusão em questão.
É com o superfaturamento obtido pela Rádio Bandeirantes com a dupla transmissão AM/FM que se criou a Rede Band News, rede que agora ruma para o caminho do showrnalismo light, pra tentar reverter a baixa audiência. A Band News Fluminense tem o mesmo Ibope decadente que a Fluminense FM teve entre 1991 e 1994. Foi esse desempenho que fez a "Maldita" naufragar de vez. Pior: a Flu não tinha os astros da TV Bandeirantes e da Folha de São Paulo que integram a Band News, o que piora a situação para a rádio ounius da família Saad (descendente de Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo e portador da fama de "rouba mas faz" bem antes do baiano ACM).
A Aemização das FMs está causando um sério problema no rádio. Praticamente o rádio entrou na fase do capitalismo selvagem, virando um cassino dos grandes empresários de rádio. E, apesar de evocar palavras lindas como "democracia", "liberdade de informação", "prestação de serviço" e "cidadania", essas rádios na verdade estão comprometidas com a overdose de informação, com a alienação das massas através do futebol, com a elitização da opinião pública na medida que a idéia de "opinião" se associa aos grandes jornalistas, "sacerdotes" medievais da Idade Mídia, engravatados que se acham no direito único de julgar a sociedade e dar a palavra final para tudo, apesar de supostamente atribuírem aos ouvintes o livre direito de opinarem.
A atitude da Super Rádio Tupi - cuja "afiliada" em FM merece o apelido de INFRA RÁDIO TUPI - vai gerar um colapso no rádio carioca, com efeitos semelhantes que a corrupta Rádio Metrópole FM, surgida das consequências de um esquema de lavagem financeira do então prefeito de Salvador e hoje dublê de radiojornalista Mário Kertész, há 20 anos atrás, fez no rádio baiano. Para quem não sabe, Kertész é um grande demagogo, radialista caricato e jornalista incompetente e sem diploma, um ultra-direitista que ludibriou a esquerda baiana e assassinou até um jornal, o Jornal da Bahia, cuja equipe fundadora contou com os grandes João Ubaldo Ribeiro e Glauber Rocha (que, antes de ser cineasta, foi repórter policial).
É um problema que deveria ser avaliado pelo CADE, pela ANATEL, pelo Sindicato dos Radialistas. A concessão dos 96,5 MHz deveria até ser cassada. Mas como o Brasil é o país do "jeitinho", a Super Rádio Tupi, ou melhor, a INFRA RÁDIO TUPI FM, será aplaudida pelos fanáticos modulados que dominam o padrão opinativo que se vê nas colunas e sites sobre rádio.
E ver que o custo disso é o fim da Antena 1. Afinal, o brega-popularesco da Nativa FM tem o apoio de latifundiários, grandes empresários e políticos, e emburrecer o povo é algo que as elites investem sem problema.
A Rádio Tupi, que periga transformar o adjetivo "Super" em algo vazio e sem sentido, já determinou o preço caro que pagará por passar rasteira nas outras emissoras de rádio AM cariocas, que não tem o poder que a Tupi possui, mas queriam ser incluídas na diversidade comunicativa do rádio. E, numa época em que as emissoras FM "AnêMicas" como CBN, Band News, Rede Transamérica, Itatiaia (MG), Metrópole (BA) e Gaúcha (RS) estão levando surra no Ibope, a entrada da Tupi estará longe de se tornar um sucesso natural e efetivo.
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